Dando sequência à série sobre mudança de hábitos, vamos tratar de um muito prejudicial à saúde: o tabagismo. Todos conhecemos os riscos de fumar para a saúde, mas isso não facilita o abandono do hábito. Seja um fumante ocasional ou compulsivo, parar de fumar pode ser muito difícil. E isso vai muito além de força de vontade.

Fumar é tanto um vício físico quanto um hábito psicológico. A nicotina dos cigarros causa dependência química e eliminar essa dose regular de droga faz com que o corpo sinta sintomas e desejos físicos de abstinência. Devido ao efeito de “sentir-se bem” da nicotina no cérebro, o fumante pode recorrer aos cigarros como uma maneira rápida e confiável de aliviar o estresse e relaxar.

Parar significa encontrar maneiras diferentes e saudáveis ​​de lidar com esses sentimentos. E aqui vou falar sobre alguns pontos a serem levados em consideração nesse processo.

  1. É importante compreender que, de maneira geral, deixar o cigarro demanda tempo e energia. É uma jornada que, muitas vezes, envolve várias derrotas ao longo do caminho. Há estudos que apontam que cerca de 70% dos fumantes querem parar de fumar, mas poucos conseguem ter sucesso, sendo que a maior parte deles precisa de cinco a sete tentativas antes de deixar o cigarro definitivamente.
  2. Quem já tentou parar de fumar e falhou, não deve deixar que isso seja um obstáculo. Continue as tentativas. Isso faz parte da história natural do processo e desistir é a única maneira de te distanciar do sucesso.
  3. Associado a isso, é muito importante ter ajuda externa. Essa ajuda passa pela rede de apoio, como familiares e amigos, mas também uma equipe multidisciplinar, que pode envolver o endocrinologista, psiquiatra, psicólogo e outros profissionais, como educador físico e nutricionista, por exemplo. A não ser que tenha um consumo modesto e com grau de dependência leve, a chance de sucesso será bem maior se tiver assistência médica.
  4. Não existe resposta única para a maneira mais adequada de parar esse hábito. Essa decisão envolve análise de diversos fatores e é diferente de pessoa para pessoa. Parar de fumar de uma vez, marcar uma data final para esse hábito e/ou reduzir aos poucos o consumo são opções a serem discutidas de acordo com o perfil do paciente, sua dependência e o processo medicamentoso a que será submetido.
  5. Existem algumas maneiras de ajudar, do ponto de vista farmacológico, a diminuir esse vício e aumentar as chances de sucesso. Através de alguns instrumentos que ajudam a avaliar a dependência a nicotina de uma pessoa, como o Questionário de Tolerância de Fagerström (QTF), temos uma referência para que o médico e outros profissionais possam propor um tratamento personalizado, que leve em conta a rotina e as necessidades do paciente.
  6. Uma decisão muito importante pra quem deseja parar de fumar é buscar avaliação psiquiátrica. É muito comum que o vicio do tabagismo esteja relacionado a outras doenças psiquiátricas, como depressão, esquizofrenia e transtornos de ansiedade e de humor. E isso precisa ser diagnosticado e tratado em concomitância. O cigarro funciona como uma válvula de escape para a sensação de bem-estar que o paciente com essas doenças psiquiátricas busca. Tentar largar o vício sem tratar a doença de base pode não só dificultar o processo quanto exacerbar os sintomas psiquiátricos.

Para finalizar, seguem algumas dicas adicionais:

  1. Tente vencer um dia após o outro. Não pense muito a longo prazo, foque no hoje. Hoje não vou fumar, amanhã é outro dia.
  2. Você certamente sentirá vontade de fumar muitas vezes, mas é importante se lembrar e mentalizar que esses sintomas são transitórios A ausência da nicotina trará crises de abstinência, com os sintomas de tontura, falta de concentração, mas geralmente vêm e vão dentro de 3 a 5 minutos.
  3. Evite os gatilhos e busque alternativas ao desejo pelo cigarro. Procure não consumir álcool e café preto, pois eles geralmente aumentam o desejo pelo cigarro. Quando a vontade bater, tente uma respiração pausada, um passeio para se distrair e os substitutos que inibem os desejos do cérebro, como goma de mascar, palitos de cenoura, água gelada, além do cravo e do gengibre.
  4. Aos poucos, incorpore atividades físicas à sua rotina. Há uma visão equivocada que é preciso esperar o fim do tratamento, mas podem ajudar na sensação de bem-estar e na recuperação do organismo, comprometido com o tabagismo.
  5. Existe uma preocupação comum às pessoas que pensam em parar de fumar que é a questão do ganho de peso. O tabagismo atua como um inibidor de apetite e atenua o paladar, portanto, é verdade que muitas pessoas que deixem de fumar engordam. Mas é importante lembrar que o abandono do cigarro vence alguns quilos a mais na batalha por mais saúde. E ganhar peso pode ser evitado ou minimizado com acompanhamento médico.

Por fim, é importante falar sobre os cigarros eletrônicos. Há um senso comum de que eles poderiam ser úteis na redução de danos causada pelos cigarros convencionais, por não conter outras substâncias, como alcatrão e monóxido de carbono, e por não passar pelo processo de combustão. Mas é importante ressaltar que os vaporizadores mais leves possuem cerca de 6 vezes a dosagem de nicotina dos cigarros comuns. E, além disso, podem possuir outras substâncias tóxicas e desencadear processos químicos em nosso organismo que tragam efeitos colaterais ainda não conhecidos. No Brasil, a comercialização desses produtos ainda não é autorizada. Em outros países há a proibição ou sérias restrições.

Além de não existir regulação sobre os “vapers”, estudos têm apontado sérias doenças relacionadas ao consumo de cigarros eletrônicos. Por fim, como efeito colateral dessa novidade, os vaporizadores trouxeram uma nova onda de adesão ao hábito de fumar, principalmente entre jovens. Já tivemos mais de 50% da população fumante no passado. Nos últimos anos, esse número foi reduzido a cerca de 10% da população brasileira. E não há motivos para querermos endossar este hábito tão nocivo à saúde.