Como alguns de vocês já sabem, a puberdade é aquela etapa da vida quando acontecem as modificações hormonais no corpo da criança, fazendo a transição para a fase adulta. A puberdade precoce, como o nome sugere, é um adiantamento dessa fase, quando as mudanças no corpo começam antes do tempo.

No caso das meninas, a puberdade costuma acontecer entre 8-13 anos; e, em meninos, entre 9-14 anos. O primeiro sinal de puberdade, no caso das meninas, é o surgimento do broto mamário; e, nos meninos, o aumento do tamanho dos testículos. Ou seja, nessa etapa é onde surgem também os pelos, tanto pubianos quanto axilares, a acne, o aumento da oleosidade da pele, além disso, o odor nas axilas e, nas garotas, termina com a primeira menstruação.

A puberdade é considerada precoce quando ela surge antes dos 8 anos em meninas e dos 9 anos em meninos. E é considerada atrasada a puberdade que tem início após os 13 anos em meninas e após os 14 anos em meninos. Por exemplo, muitos pais me questionam “Dra. Ana Luiza, é verdade que essa antecipação tem sido cada vez mais comum?” E eu digo que sim! O número de casos está aumentando e cada dia o processo de amadurecimento está acontecendo antes da idade.

Quais causas impactam no surgimento da puberdade precoce?

A puberdade precoce é causada pelo aumento antecipado dos hormônios sexuais no sangue. Ela pode acontecer quando a criança se expõe a algum hormônio, como, por exemplo medicamentos com estrogênio ou testosterona (às vezes usado por um adulto que tem contato próximo com ela). Ou seja, este início da puberdade pode ser influenciado por diversos fatores, como a genética, o psicológico e ambiental, o estado de saúde, além das condições socioeconômicas.

Além disso, existe uma forte associação entre a antecipação da puberdade em meninas e a obesidade infantil, sendo este um fator de risco que precisa de atenção e cuidado. A puberdade também pode se antecipar em crianças cujos pais tiveram puberdade precoce, pois há um fator genético envolvido.

Que fatores ambientais influenciam?

Analisando o contexto atual, a primeira menstruação das meninas está acontecendo na faixa dos 12 anos de idade, o que no passado era, em média, aos 17 anos. Essa idade foi caindo com o passar do tempo e é um dos sintomas claros da puberdade precoce. Existem alguns fatores ambientais relacionados a esse fenômeno, a começar pelos agrotóxicos.

Os agrotóxicos podem sim influenciar na puberdade precoce. Uma das hipóteses para a antecipação da puberdade diz respeito ao contato com os chamados desreguladores endócrinos, substâncias com propriedades para alterar o funcionamento do sistema endócrino-hormonal, que são comuns nos agrotóxicos. Por exemplo, os desreguladores também estão na soja, por exemplo, mas a compreensão é que seria necessário o consumo constante para o seu efeito.

Existe uma associação entre a presença de alguns componentes nocivos de embalagens plásticas e a ocorrência de diversos problemas de saúde, e a puberdade precoce está nessa lista. Ou seja, o maior vilão é o bisfenol A, ou BPA. Portanto, evite ter esse tipo de produto em casa, principalmente para armazenar alimentos.

Quais os impactos da puberdade precoce na vida das crianças?

Desde transtornos psicológicos e de comportamento; maior risco de abuso sexual; baixa estatura quando adulto; maior risco de obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, até doenças cardiovasculares e o câncer. Portanto, fique atento aos sinais de puberdade no seu filho. É importante reforçar que uma avaliação cuidadosa por um médico endocrinologista é o ideal nessa situação.

Como posso tratar?

Sempre reforço aos meus pacientes: o tratamento da puberdade precoce depende da causa. Ou seja, cada caso e cada paciente respondem a tratamentos distintos, que, em geral, envolvem injeções de hormônio, que variam de períodos mensais até trimestrais.
A expectativa da duração dos tratamentos é que sejam realizados até por volta dos 12 anos de idade, sendo guiado pela idade óssea. A partir de então suspende-se as injeções, permitindo assim que o corpo se desenvolva no tempo correto e saudável. Ou seja, o essencial sempre é definir um tratamento com o acompanhamento de um endocrinologista capacitado.